Belle Chase Hotel - Fossanova e La Toilette Des Étoiles
“There's a new McDonald's on Sunset Boulevard/We love Coca-Cola and the gorgeous movie stars/Double cheese and triple cream/It must be a dream”. O ano é 1998 e o tempo é de vacas muito gordas. O sonho cosmopolita é servido com batatas fritas e ketchup. As grandes superfícies são pasto para as ovelhas. Colombo e Vasco da Gama ressuscitam em forma de elefante azul. O El Corte Inglés sopra de Espanha. Em cada esquina, há um Macdonald’s amigo. Ainda é barato pedir um menu com hamburger, batatas e refrigerante com borbulhas. Ao domingo, come-se um Sunday. Faz-nos sentir modernos e prósperos. Ainda não temos TGV nem viagens em low-cost mas forramos o estômago como Los Angeles de Charlie. Um lugar em classe económica na última carruagem do comboio da globalização consola décadas de cozido à portuguesa.
Como há algum dinheiro, há palhaços-leōes. O circo está a chegar. Uma dezena de malabaristas faz da miséria humana recreio. As bandas bem-comportadas vão para o céu, as outras ou ficam em casa, ou riscam no mapa. Os Belle Chase Hotel pertencem ao restrito lote das excepçōes. Ainda antes de terem um álbum para apresentar como bilhete de identidade, são convidados pela Rádio Universitária de Coimbra para soprar as velas no vetusto Teatro Académico Gil Vicente, que esgotam a 2 de abril de 1998 (a história é contada aqui) e nesse mesmo verão sobem a Paredes de Coura - “fomos a primeira banda no festival sem disco. Só tínhamos uma cassete”, assinala JP Simōes. Fossanova há-de escapar da lamparina poucos meses depois mas nesse Verão de Zidane, a caminho da queda do império do Séc. XX, ainda conspira no escurinho do estúdio.
Para trás, há três anos de bolandas. “O núcleo começou com o baterista Antoine Pimentel. Fizemos algumas experiências por piada com outros músicos. Quando conhecemos o Pedro Renato, ele começou a trazer as suas composiçōes. Foi aí que começámos a descobrir o caminho para a banda. Juntámo-nos ao velho amigo João Baptista (falecido em 2020) no baixo. Fomos convidando outras pessoas para estúdio. Como éramos muito generosos, quem ia acabava por ficar”. E quando deram por si entre o gole dissolvente, eram uma dezena.
João Paulo Simōes, o JP Simōes, o vocalista, letrista e agitador, vinha dos Pop Dell’Arte, onde tocava guitarra “não muito bem”, e para os quais fora convidado pelo colega e amigo de estudos Luís San-Payo após anos a admirar a oficina de João Peste. É dele o segundo conjunto de seis cordas no extravagante Sex Symbol. “Nos Pop Dell’Arte, adorava as pessoas mas compunha pouca coisa e não era grande guitarrista. Era uma das minhas bandas favoritas mas não era importante ali. Qualquer outra pessoa poderia fazer aquilo. Belle Chase começou a puxar por mim. Cantava, escrevia, compunha. Acabei por sair dos Pop Dell’Arte em 96”, recorda.
Académico de Coimbra, JP já tinha passado por uma experiência iniciática anterior. “Fui convidado para cantar com um grupo de amigos na altura num projecto chamado Proletários da Cirrose. A ideia era usar o rock para recuperar a identidade nacional”, rebobina citando o exemplo da versão de Sei Quem Ele É, dos Mler Ife Dada para explicar as intençōes. Era a “génese da génese” dos M’As Foice, banda mítica que por sua vez estaria na semente dos Tédio Boys, com o vocalista Tony Fortuna e o baixista Sérgio Cardoso.
É nesta cidade romantizada de fora mas cristalizada por dentro que “putos cheios de garra” lutam contra “o museu de cera”. A atitude punk “era de libertação de uma cidade pequena e do seu anacronismo”. A reacção a “ser jovem numa cidade velha onde se ouvia música folclórica como se fosse a única coisa”. Apesar de Coimbra fervilhar de bandas, “nós éramos mais solitários, cada um com os seus projectos, audiçōes e leituras. O movimento surge contra esse estaticismo da cidade”, defende. “Fazia mais parte de um sonho cosmopolita do que de uma revisão etnográfica sobre a cidade e os seus costumes porque o costume da cidade era sonhar com outros lugares. A música de Coimbra é uma raiz desenraizante”, observa.
A equipa é toda constituída com base nas camadas jovens locais. JP, Antoine Pimentel (baterista), Pedro Renato (guitarra), João Baptista e o discreto maestro Luís Pedro Madeira formam a espinha dorsal. Sérgio Costa (guitarras e metais), Marco Henriques (saxofone) e Filipa Cortesão (violino) entram para a fanfarra e já não saem. Falta a amiga e fã Raquel Ralha, desafiada para cantar ao lado de JP.
Os Belle Chase Hotel retalhavam partes sensíveis de outros corpos: eram como um passeio dos alegres pelo easy listening de Burt Bacharach, pelo romantismo de Henry Mancini, pelo tango de Piazzolla, pelos blues profanos de Tom Waits e pelas avenidas da liberdade jazzística de John Zorn. Bebiam do teatro de Kurt Weill, da sátira de Jarvis Cocker, do charme de Casanova e do galanteio de Bryan Fery; trinchavam como Nick Cave e redimiam como Leonard Cohen. Bebiam do pós-modernismo dos GNR, da libertinagem de Manuel João Vieira e da autodeterminação dos Pop Dell’Arte. No choque entre uma dezena de personalidades melómanas, literatas e cinéfilas, o desfecho era fácil de prever mas difícil de imaginar: quase nada se perdia, quase tudo se transformava à sua maneira. Matéria arqueológica reciclada para criar um outro cosmos.
“Qualquer um de nós trazia uma bagagem cultural mínima. Toda a gente tinha referências bastante diversas. Cada um puxava para o seu lado. Era a orgânica da banda. Havia uma certa embriaguez. Às vezes partíamos de uma ideia simples de valsa ou tango mas depois evoluía para um espírito de delírio”, descreve JP. “O meu amigo Antoine Pimentel foi das pessoas que mais música me mostrou. O underground novaiorquino, o jazz pós-59 do be-bop ao San Ra, o afro-beat, coisas experimentais como os Tuxedomoon…”. O caldeirão era, de facto, fundo.
“Em 94/95”, recapitula, “já ensaiávamos em Coimbra quando ia visitar a família”. O nome foi-se tornando “subrepticiamente” conhecido. Em 1995, dão “um primeiro concerto, com coisas novas e versōes do Tom Waits, na Casa Fernando Pessoa, no aniversário da [produtora cultural] Locomotiva Azul”, da qual fazia parte o jornalista Pedro Dias de Almeida, hoje na Visão. “Queria experimentar músicas, géneros, ensaios e concertos”, revisita. Os Belle Chase Hotel passaram pelo tirocínio de tocar “em bares bizarros com motos penduradas no tecto”. No período da recruta, “passámos por tudo: fomos maltratados, insultados e mal-pagos”. “O maravilhoso roteiro dos bares, do Luso a Praia de Mira, de Condeixa ao Santa Cruz, Mostras de Música Moderna como a da Pampilhos”, completava Pedro Renato em entrevista ao jornal A Cabra. Talvez o título Down By Law (Vencidos pela Lei), o filme de Jim Jarmusch ao qual resgataram o nome Belle Chase Hotel, funcionasse como um aviso mas a vida andava como um carrossel. Havia sempre lugar para mais um.
Quando Fossanova bate à porta, já tinham “anos a preparar o primeiro disco. Não aparecemos do nada”, sustenta JP Simōes. Além de Coura e do TAGV, já tinham pisado as tábuas do palco secundário da Queima das Fitas de Coimbra, do Palco 6 da Expo 98 e da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. O disco foi gravado para a conterrânea Lux Records mas a meio da viagem do comboio ascendente, a NorteSul, subsidiária da Valentim de Carvalho, e casa de Mind Da Gap, Blind Zero, Mão Morta, Xana e Reportér Estrábico interessou-se. Uma boa notícia por vários motivos. Fossanova teria assim uma independente com outra capacidade orçamental para pagar uma conta nada barata e condiçōes para propiciar impacto nacional. Como veio a acontecer.
O álbum chegou a 16 de Novembro, com concerto de apresentação no Ritz Club em Lisboa, no dia seguinte. “O CD chegou às lojas na data anunciada, mas foi detectado um erro no áudio e teve que ser recolhida toda a edição. A nova prensagem chegaria em forma de presente natalício no dia 21 de Dezembro, ainda a tempo de entrar para o Top + (a tabela dos discos mais vendidos em Portugal) da última semana do ano”, contava Rui Ferreira da Lux sobre o processo.
A influente crítica recebeu-o com champanhe e caviar. Havia motivos para celebrar a comédia divina. “This night is the only cabaret/And the doorkeeper’s never there/And we’re never, never, going back/So save your coins to the startrek”, eram os proféticos primeiros versos. Qual porteiro a receber os clientes, Fossanova apresenta-se ao serviço com Kurt Weill Time, sem medo das semelhanças nem das comparaçōes. A peça avança para um Wrong Kind of Blues, na linha avançada de John Barry e dos gatilhos dourados de James Bond, mas é na canção titular que os Belle Chase Hotel se descaem no fraco pelo easy listening. Fossanova tem tanto de Burt Bacharach como de refrão à Pulp e esquizofrenia freudiana com Power Rangers a sambar no laboratório do Dr. Frankenstein. O vídeo retrofuturista tinha o olho de Pedro Cláudio.
Fossanova é como um supermercado, tem um pouco de tudo. Super pop (Sunset Boulevard, com vídeo de António Ferreira, o cineasta de Esquece Tudo O Que Te Disse, estreado quatro anos depois), valsas anti-depressivas (Strong Sex e The Night Will Never Care), tango (Lonely Gigolo), country (Scorpions in Love), uma balada para piano-bar (Living Room), de novo um regresso ao departamento criminal de Goldfinger em Sign of the Crimes (“A man commited a crime, fell in love with his mind”), funk branco com refrão disco na deliciosa Emotion & Style e chanson française (Derangé). E viva o consumismo!
Num ano de boa apanha, com álbuns de Camané, Três Tristes Tigres, Mão Morta, Zen, GNR, Xana e a colecção Tejo Beat, Fossanova cruzava dezembro na linha da frente e empurrava os Belle Chase Hotel para uma fábula bêbeda. Logo em janeiro de 1999, asseguravam com brilhantismo a primeira parte da estreia marcante dos Mão Morta no Coliseu dos Recreios e daí em diante não mais pararam de escavar a fossa. Fizeram-se McDrive de melómanos e cinéfilos e ainda que se movessem numa orgulhosa alternativa, furavam o cerco com estilo.
“Chegava ao palco e sentia-me estranhamente livre. Nunca percebi bem esse fenómeno. Era muito tímido e tinha uma espécie de Mr. Hyde ali. Foi curioso. As cançōes falavam de amor, de distanciamento e saudade mas depois tínhamos uma atitude punk. Era um contraste que não conseguia controlar. Foram dezenas de concertos num ano. Uma maluqueira e cada um reagiu como pôde. Houve de tudo, distúrbios com a segurança, mal-entendidos…Foram os nossos anos 60”, confessa JP Simōes.
As cançōes falavam de amor, de distanciamento e saudade mas depois tínhamos uma atitude punk. Era um contraste que não conseguia controlar. Foram dezenas de concertos num ano. Uma maluqueira e cada um reagiu como pôde. Houve de tudo, distúrbios com a segurança, mal-entendidos…Foram os nossos anos 60”, JP Simōes
Na imprensa, o Público defendia-os como emblema, enquanto que algumas centenas de metros abaixo no Marquês de Pombal, o Diário de Notícias vestia a camisola dos The Gift. “Porquê este entusiasmo todo”, interrogava Rui Catalão nas páginas do Público de 15 de janeiro de 1999. “É que há muitos anos que não surgia uma música tão profundamente comovedora e libertina, celebrando os desacatos amorosos com uma fúria mundana e reservando para a melancolia o devir de um tempo condenado aos destroços”. JP Simōes recorda-se e compara a rivalidade “à guerra entre Blur e Oasis” nos jornais ingleses. Dá para ter uma ideia do peso que a tinta movia nos gostos musicais da “imensa minoria”. “Houve uma tentativa de polarização com chip de tablóide”, lamenta sobre alguns comentários publicados na época. “Fiquei triste com algumas coisas que se escreveram”, confirma.
Ainda sobre Fossanova, um último suspiro. “Tivemos muitos meios só que o disco foi muito mal masterizado. O Fossanova tocava bastante na altura mas se eu chegasse a um bar, estava 4/5 decibéis abaixo. Talvez tenha sido azar”. Em 1999, chegava a reedição aumentada em vinil duplo numerado e duplo CD, onde além de algumas remisturas se podiam encontrar versões para duas influências maiores: Telephone Call From Istambul, de Tom Waits e a famosa Goldfinger, de John Barry com Shirley Bassey. 63 concertos depois, o ciclo fechou-se no final desse ano perante uma Aula Magna esgotada, após concertos no Teatro Rivoli (Porto), Teatro Aveirense (Aveiro), Festival Zeca Afonso (Coimbra), Praça Sony (Lisboa), Festival Outros Rituais (Porto), Hard Club (Vila Nova de Gaia), Festival Sudoeste (Zambujeira do Mar) e Festa do Avante, além de festas académicas.
“O segundo álbum é um bocadinho mais frio”, resume. “Houve tempo para pensar nas coisas enquanto no primeiro, houve coisas criadas em estúdio. O Fossanova teve anos para crescer. O segundo não, mas há uma continuidade nem que seja pelas pessoas e pelas minhas histórias”. Fossanova e La Toilette des Étoiles são como um acto contínuo com subtilezas a separá-los. O português de Carmen Miranda é introduzido na demente São Paulo 451, assim como instrumentais como o surfista Evil Rock, neto de Dick Dale com saxofone esgazeado do próprio JP Simōes, talvez inspirado por David Bowie.
"A diferença”, conta, “passou também pelo facto de o primeiro álbum ser muito mais um escrutínio de relações íntimas vividas, transformando-as em histórias, enquanto este teve uma visão bem mais afastada e crítica relativamente aos personagens e às narrativas, que foram mais depuradas. Desde o tempo que tivemos para fazer o disco (que foi pouco) até aos métodos de trabalho (e falta deles), passando pelo resultado, acabou por ser um processo mais faseado e não houve aquela explosão de ’composição desenfreada’ que caracterizou Fossanova”, acrescentava JP na mesma entrevista a A Cabra.
Como em Fossanova, as cançōes vagueavam entre o bairro do amor e o lado errado da noite. Sós, boémias e condescendentes mas também benignas. E se São Paulo 451 era toda suor e fantasia, Perfume of the Stars lançava o canto de sereia. Star Patrol reactivava os diálogos com Henry Mancini enquanto Paganini’s Fire emanava de Tom Waits. Merry Go-Wrong e Nimarói chamavam pela Broadway como Abel por Caim. La Toilette des Étoiles apostava em interlúdios como separadores televisivos e terminava a descer ao cabaret de Marianne Faithfull em Mirago, com Raquel Ralha no papel principal. Um mosaico quintessencial e amovível de música do Séc. XX, com direito a beberete e ressaca no fim. Seria uma despedida eterna até 2022, quando regressaram das cinzas e editaram o single Keith Moon.
No Diário de Notícias, João Miguel Tavares (sim, é o mesmo) relacionava-o com “a estética do plágio” preconizada por Tom Zé. “Peritos na arte da pilhagem, a sua identidade é um vitral apurado”, descrevia na crítica de quatro estrelas - “não sendo uma obra-prima, tem cançōes notáveis”. O segundo episódio da alucinante viagem dos Belle Chase Hotel foi produzido por Joe Gore, músico com ligaçōes a Tom Waits, PJ Harvey, Tracy Chapman, Marianne Faithfull, Luke Combs, Eels, Courtney Love, John Cale, DJ Shadow e Aimee Mann, entre vários outros. JP Simōes não se recorda do porquê da escolha mas lembra-se de como aconteceu.
“Lembro-me de falar bastante com o Pedro Renato. Era interessante termos alguém de fora. Conhecíamos o trabalho dele através do Tom Waits. Alguém enviou um mail a perguntar se ele queria produzir um disco de uma banda de uma pequena cidade de um pequeno país. Ele nunca tinha produzido um disco, curiosamente. O Joe era organizado e assertivo. Fizemos o disco em tempo recorde”, embora com “muito mais controlo” por comparação com Fossanova. Em entrevista a Aníbal Cabrita da TSF, o convite era justificado com o trabalho de Gore na Oranj Symphonette, em particular um disco com versões de temas de cinema.
Um cálice de polémica era refresco para os Belle Chase Hotel. No single São Paulo 451, JP Simōes usava do grafismo para descrever a situação. “Naquela praça suja/com merda de pombo/patrulhada pelo sexo”. Vinte anos depois da “merda na algibeira”, houve quem se incomodasse com a “merda de pombo” mas JP, que não tem memória da discussão, garante que as palavras não tinham como propósito ferir susceptibilidades. “É excremento de pomba, só que excremento não ficava bem na prosódia. A Praça de S. Paulo tinha essa característica de cheirar a excremento de pomba seco ao sol”, relata.
Na referida entrevista a A Cabra, Luís Pedro Madeira comentava a reacção higiénica à presença do dejecto na calçada. “A censura do tema não é nada que me espante, é normal que isso aconteça, acontece há anos neste país. Passam as coisas mais ordinárias e essas sim violentas, mas em inglês, e quando vem alguém neste português brasileiro dizer “merda de pombo“ fica logo tudo muito espantado e exclamam “Não pode ser! Não se pode passar uma coisa com um palavrão desses…” Neste país, infelizmente, é normal.” Em 1997, algumas rádios tinham recusado Punk Moda Funk, o primeiro single dos Ornatos Violeta, devido à passagem “Quero mijar!/Agora quero mijar!”, nas mesmas frequências onde se ouvia “I’m a bitch” de Meredith Brooks. Segundo o jornal, São Paulo 451 tinha sido censurado na Antena 1, Rádio Renascença e RFM e preterido na Comercial em relação a Donzela Diesel (versão de Rui Veloso do tributo 20 anos depois - Ar de Rock).
Na tragicomédia, farsa, melodrama e humor coexistem sem fronteiras nítidas a distingui-los. Assim foi. O conto dos Belle Chase Hotel também se conta através das lendas às quais faltaram os papéis do Panamá para se verificarem além da pré-verdade.
“Há histórias que nem sei se são verdade, se não, que na altura não me contavam porque achavam que tinha mau génio. Era suposto termos feito uma digressão pela Europa com o Nick Cave que não avançou devido a negociaçōes que nada tiveram a ver com a banda. Houve outra. A Naïve queria editar-nos. Era a editora dos Pink Martini que se relacionava com a nossa estética retro. Também não avançou devido a negociaçōes falhadas. Fomos altamente castrados por pessoas que não tinham nada a ver com a música”.
Há histórias que nem sei se são verdade, se não, que na altura não me contavam porque achavam que tinha mau génio. Era suposto termos feito uma digressão pela Europa com o Nick Cave que não avançou devido a negociaçōes que nada tiveram a ver com a banda. Houve outra. A Naïve queria editar-nos. Era a editora dos Pink Martini que se relacionava com a nossa estética retro. Também não avançou devido a negociaçōes falhadas. Fomos altamente castrados por pessoas que não tinham nada a ver com a música”, JP Simōes
O fogo não se apagou logo. Tal como Fossanova, La Toilette des Étoiles motivou uma extensa digressão culminada com espectáculos no Teatro Maria Matos em Lisboa e Teatro Sá da Bandeira no Porto. Na dialéctica omnipresente entre música e cinema, escreveram e gravaram as bandas sonoras de três curtas metragens de Charles Bowers para o Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde, e em 2002 contribuíram com O Golo para a compilação CD Não Oficial do Mundial 2002 de apoio à selecção nacional no Mundial da Coreia e Japão - um descalabro.
Antes de entrarem em estúdio para gravarem o terceiro álbum de originais, os Belle Chase Hotel aceitaram o desafio de preparar um espectáculo para integrar a programação de Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003. O grupo de fados Quinteto de Coimbra foi cúmplice do espectáculo Mondego Chase apresentado nos dias 13 e 14 de Março de 2003 no Teatro Académico de Gil Vicente. Seria o canto da cisne da banda, quando parte dos elementos já pernoitava noutros motéis. Pedro Renato, Raquel Ralha, Luís Pedro Madeira e Pedro Pinto criaram a fabulosa banda sonora de Esquece Tudo O Que Te Disse enquanto Azembla’s Quartet. E um ano depois, JP Simōes levava mais uma para o caminho no não menos luxuoso álbum de estreia do Quinteto Tati (para os quais se transferiu com Sérgio Costa). Luís Pedro Madeira trabalhou com os WrayGunn, de Paulo Furtado, dos quais ainda fez parte Raquel Ralha. A vocalista e Pedro Renato também gravaram um álbum como Animais - uma homenagem a Carlos Paredes - e dois como Mancines. JP Simōes começou um percurso a solo em 2007 com 1970 e acaba de editar um álbum de versōes de José Mário Branco (entrevista).
Os Belle Chase Hotel regressaram em 2011 apenas para um concerto. Seriam reactivados em 2018 de novo em palco no festival conimbricense Lux Interior. Em 2022, novo reencontro desta vez para o single Keith Moon. No início deste ano, celebraram o 25º aniversário de Fossanova no Teatro Académico Gil Vicente. Já sem João Baptista, mas com Miguel Duarte no baixo. Desta vez, com a promessa de um terceiro álbum ainda para 2024. Fossanova e La Toilette Des Étoiles podem ser ouvidos nas plataformas digitais. O blogue dos Belle Chase Hotel ainda está online